terça-feira, 2 de novembro de 2010

Ultimatum Álvaro de Campos (1917)
Mandado de despejo aos mandarins do mundo Fora tu reles esnobe plebeu E fora tu, imperialista das sucatas Charlatão da sinceridade e tu, da juba socialista, e tu qualquer outro. Ultimatum a todos eles e a todos que sejam como eles todos. Monte de tijolos com pretensões a casa Inútil luxo, megalomania triunfante E tu Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral que nem te queria descobrir. Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular Que confundis tudo! Vós anarquistas deveras sinceros Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores para quererem deixar de trabalhar. Sim, todos vos que representais o mundo, homens altos passai por baixo do meu desprezo Passai, aristocratas de tanga de ouro, Passai frouxos Passai radicais do pouco! Quem acredita neles? Mandem tudo isso para casa, descascar batatas simbólicas Fechem-me isso a chave e deitem a chave fora. Sufoco de ter só isso a minha volta. Deixem-me respirar! Abram todas as janelas Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo. Nenhuma idéia grande, nenhuma corrente política que soe a uma idéia grão! E o mundo quer a inteligência nova O mundo tem sede de que se crie O que aí está a apodrecer a vida, quando muito, é estrume para o futuro. O que aí está não pode durar porque não é nada. Eu, da raça dos navegadores, afirmo que não pode durar! Eu, da raça dos descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir o mundo novo. Proclamo isso bem alto, braços erguidos, fitando o Atlântico e saudando abstratamente o infinito.

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